quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Uma não tão pequena introdução ao LaTeX2e

Aqui há cem anos traduzi um pequeno manual de LaTeX, coordenado por Tobias Oetiker. Esse pequeno manual de LaTeX tem vindo a crescer de tempos a tempos, e a versão actual já vai com mais de 140 páginas, e já inclui introduções a tópicos menos comuns como xeLaTeX, Beamer ou pgf/TikZ.

Tenho mantido a versão PDF da tradução disponível de forma gratuita na minha página pessoal (e continua a estar) mas também preparei uma versão para ser vendida impressa através do site lulu.com (cliquem na capa e serão redireccionados).

Infelizmente o lulu.com não imprime em Portugal, e os livros vêm de França (salvo erro) o que implica um acréscimo ao custo de impressão. Por esse razão, encomendei 25, e com o que poupei nos portes (e na quantidade) consigo vendê-los em Portugal a 8 euro (preço do lulu.com) mas sem os portes. Assim, se alguém estiver interessado em adquirir um, é mandar-me um e-mail, ou contactar-me de algum modo. Se for possível uma entrega presencial, tanto melhor. Caso contrário, terei de acrescer aos 8 euro o custo de envio (que sendo em Portugal será, com certeza, menor que encomendar directamente do lulu.com.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Todo o burro come palha...


 

Já os antigos diziam, que Todo o burro come palha, a questão é saber dar-lha. Pois cada vez concordo mais com este provérbio, e cada vez mais o vejo a ser aplicado a as mais diversas áreas.

A típica, é quando alguém não gosta de determinada comida. Com um bocado de engenho, é possível cozinhar de uma forma diferente, juntando ingredientes de que essa pessoa gosta, e conseguir que ele a coma. Às vezes nem é preciso muito, basta a aparência. Lembro-me de um convidado estrangeiro que era vegetariano, e que pediu um Pudim Abade de Priscos. Pois, ninguém foi capaz de lhe dizer que aquilo tinha gordura de Porco. A verdade é que comeu, gostou, repetiu.

Mas no caso concreto que me leva a escrever este post ainda não tinha visto este provérbio a ser aplicado. Não é que um autor (engenhoso, pelo menos pela ideia, já que não li o livro) pegou na célebre história "Viagens na Minha Terra" de Almeida Garrett, e a reescreveu com... vampiros! Sim, é verdade. A juventude nos dias que corre está fascinada com os vampiros. São telenovelas, filmes, séries, livros. Porque não conseguir que os jovens leiam literatura lusa (mesmo que um pouco adulterada), adicionando um bocado de sangue ao barulho?

sábado, 29 de outubro de 2011

Os Pilares da Terra (Ken Follett) - Vol I

É certo que a história é apenas uma, e que a divisão em volumes é puramente funcional (tornar possível a impressão e encadernação do livro), e não como, por exemplo, O Senhor dos Anéis em que, embora a história continue, cada livro tem um final minimamente estanque.

Mas para não vos deixar tanto tempo à espera, preferi apresentar aqui uma pequena revisão do primeiro volume de Os Pilares da Terra, uma obra em dois volumes de Ken Follett, publicado em Portugal pela Editorial Presença.

A história é referente à idade média, e portanto, considerável com romance histórico. Romance neste contexto, apenas porque em Portugal é típico denominar por Romance toda a literatura. Claro que existe romance, mas a percentagem relativa ao resto da história não é suficiente para que se denomine (a meu ver) a obra como romance puro e duro.

O livro está muito bem escrito. Não estou a ler a versão original, como vêm pela capa, mas a versão traduzida. Não posso dizer de que modo a escrita de Ken Follett é rebuscada ou não, mas a forma como a história é contada e encruzilhada é reproduzida durante a tradução, e é aquilo que (sendo esta a segunda obra que leio de Ken Follett) mais admiro na escrita de Follett. Aos poucos, vários personagens são apresentados, de forma independente, com histórias independentes que, aos poucos, e sem contar, se vão cruzando. Alguns destes cruzamentos são tão inesperados que tornam a leitura agradável.

A tradução em si também é boa. Lamento não apresentar aqui o nome do (ou da) tradutor, mas tentarei lembrar-me de o fazer quando escrever sobre o segundo volume. Apenas alguns erros esporádicos que me parecem mais tipográficos do que propriamente erros de escrita.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O não querer vender Português

Cada vez me convenço mais que Portugal não vai para a frente não só por culpa dos políticos (em geral), que tendem a meter mais ao bolso do que a trabalhar, mas também porque o típico Português não tem visão (ou então tenho-me deparado com demasiados ceguetas...).

Já não é a primeira vez que vou a uma vending machine, típicas agora em quase todas as universidades e institutos politécnicos portugueses, que não tem troco. Habitualmente, esta situação não acontece ao fim do dia, mas sempre pouco depois do horário do funcionário ir recarregar a máquina, e levantar o dinheiro.

Não sei se já alguma vez viram como é que o mealheiro destas máquinas funciona. Existem várias pilhas, uma para cada tipo de moeda aceite. Estas pilhas enchem, e as moedas nelas presentes são usadas para dar troco. Por baixo das pilhas, existe um recipiente, onde as moedas são depositadas, todas ao molho, quando as pilhas de troco estão cheias.

Ora, os funcionários têm a mania de querer ganhar tudo de uma vez, e não levantam apenas o dinheiro que está no recipiente dos extra, mas também esvaziam todas as pilhas de moedas usadas para troco.

O que acontece é que os primeiros clientes, deixam de o ser. Querem comprar, mas não conseguem porque não têm o valor exacto. Então, ou passam fome, ou deslocam-se ao típico bar, com funcionário de carne e osso.

Gostava que tentassem fazer uma contagem, do número de vendas que perdem por dia, e fizessem a prospecção do valor que perdem por ano. Podia ser que ganhassem juízo...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Fade Out... ou a falta de capacidades musicais

Uma coisa que me enerva profundamente são as músicas que terminam em fade out. O refrão (ou outra parte da música) é repetido vezes sem conta, cada vez com menos intensidade.

Do meu ponto de vista, isto mostra uma grande falta de capacidade de composição musical. No final de uma música usam-se, habitualmente, cadências. Estas podem ser de diferentes tipos, mas fade out, não, não é música. É tratamento de ondas sonoras de forma computacional (sim, gostava de ver o cantor a fazer fade out por si só!).

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Cai-Cai, não cai!.. ou cai?

Ora, como rapaz tarado que sou, é claro que tenho todo o prazer em ver miúdas com Cai-Cai.

Infelizmente, o nome desta peça de vestuário é contra-intuitiva, já que ao contrário do que parece, não cai.

OK, é capaz de cair se o começarem a puxar, mas isso não é habitual.

O que me enerva nas miúdas a usar Cai-Cai é que não se rendam ao facto de que o Cai-Cai parece que cai, mas não cai. Patético é usar um Cai-Cai e passar todo o tempo a puxá-lo para cima.

Ou bem que se sentem bem com ele, ou não o usam.

É a mesma coisa que usar decote (ou blusa desabotoada) e estar sempre a puxar para cima, ou a fechá-la. Se não querem mostrar, comprem roupa tapada. Agora, não façam fitas...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Edição estrutural de documentos XML sobre a Web

Aqui há tempos decidi colocar uma tradução que mantenho há anos, da introdução The Not So Short Introduction to LaTeX2e disponível em papel para compra, através do site lulu.com. Pouco depois, coloquei também disponíveis as minhas dissertações de mestrado e de doutoramento.

Não obstante ao número reduzido de vendas (uma unidade de cada), gostei da iniciativa, e estou a tentar iniciar o processo de publicação de teses científicas na área das ciências da computação, a preço praticamente de custo (ou seja, trato da formatação, faço uma capa, e coloco à venda com um lucro mínimo de umas dezenas de cêntimos, mais para arredondar o preço do que para ganhar dinheiro). A ideia não é eu ganhar dinheiro com este processo, nem é fazer com que o autor da dita dissertação ganhe dinheiro com isso. Mas sim, tentar de alguma forma divulgar trabalhos que levaram anos a serem concluídos e que, habitualmente, vão para um repositório institucional e pouco mais atenção têm.

A primeira dissertação que disponibilizei na minha banca da lulu.com que não é da minha autoria, é a que apresento na imagem, Edição Estrutural de Documentos XML sobre a Web, uma dissertação de mestrado de um colega, Ricardo Queirós, já de 2004, mas que inclui um capítulo enorme sobre o estado da arte no que respeita às tecnologias XML (DTD, Schemas, XPath), e que também discute a implementação de uma aplicação Web para a edição de documentos XML. O seu preço é de 12 Euro, sendo que o custo de impressão é de cerca de 11,40 Euro.

E agora?... compro um?

Já o defendi juntamente com várias pessoas. Se me saísse o Euromilhões (tipo primeiro prémio), até era provável que me desse ao luxo para comprar uma máquina, fosse um Porsche, fosse um Ferrari ou mesmo um Lamborghini (adorava experimentar um).

Mas, voltando ao assunto com que iniciava, sempre defendi que não compraria um carro caro, como um Porsche (nem Jaguar, nem um Audi An com um n maior que 3, etc). Não é um carro que seja talhado para o uso diário, não só pelos consumos, ou pelas estradas, nem mesmo pelas pequenas batidelas que por mais que queiramos, nem sempre conseguimos evitar. Para quê gastar um balúrdio num carro que irá mais dores de cabeça do que alegrias? O meu Ford Fiesta (já com 8 anos) ficou danificado logo ao sair da garagem, no primeiro dia nas minhas mãos (não, não foi aselhice minha). Embora na altura tenha ficado relativamente chateado, foi a maneira de não ter mais dores de cabeça. Mais um risco? Mais uma amassadela? Desde que tenha sido eu o culpado, continuo feliz da vida. Com um carro de alguns milhares de Euro já não me iria sentir do mesmo modo.

Mas não quer dizer que não tenha um sonho de conduzir um Porsche (ou mesmo um Lamborghini). Para este último a coisa é relativamente complicada, mas conduzir um Porsche Boxter, até há pouco tempo, parecia relativamente fácil. Era possível alugar um na Europcar (e possivelmente noutras, como AVIS). Hoje fiquei desanimado. Parece que já não é possível fazê-lo. Compreendo (acho eu) a razão para tal, mas fiquei realmente desanimado.

Agora a alternativa é só aqueles programas para a condução de um desses carros num autódromo? Não é a mesma coisa! Queria era ir passear, fazer um fim de semana onde bem me apetecesse, passeando um destes brinquedos...

...é só um sonho.

domingo, 28 de agosto de 2011

Vigésima nona edição!

Caríssimas editoras e livreiras, uma reedição de um livro não deve ser apenas uma reimpressão, com nova capa e nova tiragem. Deve ser vista como uma oportunidade de melhorarem um produto. Se ele vendeu ao ponto de precisarem de reeditar, é bom sinal. Mas não significa que o livro esteja perfeito, e cheio de erros.

Se há coisa que me aborrece seriamente é estar a ler um livro na sua quinta ou nona edição, e que está semeado de erros ortográficos e tipográficos.

Não me parece que fique tão caro pagar a um revisor para fazer uma leitura ao livro (assim como nós, vulgo leitores, detectamos erros, qualquer outro revisor irá detectar.. pelo menos alguns deles). E já ultrapassamos a era tipográfica em que uma prancha era caríssima. Estamos na era digital, e as alterações aos livros devem ser cada vez mais simples.

Se não acreditam que um revisor possa encontrar os erros perdidos, criem páginas em que os leitores possam submeter erros encontrados. Acredito que a maioria não o faça, mas terão uma surpresa ao constatar que muitos leitores têm prazer em garantir a qualidade das obras, e que terão todo o gosto em vos indicar passagens com necessidade de correcções.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A Farsa do Serviço Nacional de Saúde - Parte I

O nosso serviço nacional de saúde é uma farsa, e toda a gente sabe que assim é. Não me parece que tornar esta farsa pública adiante o que quer que seja. Mas não custa tentar.

Nesta farsa, o episódio de hoje foca-se nas tomografias axial computorizadas, vulgarmente TAC. Não sei se sabem, mas supostamente o serviço nacional de saúde subsidia alguns exames, como radiografias, mamografias, ecografias e TAC. Infelizmente as ressonâncias magnéticas são por conta do utente.

Mas tudo isto não passa de uma farsa. No Centro de Saúde de Vila Nova de Famalicão o médico de família diz abertamente que não pode prescrever TAC. Numa reunião, o responsável pelo Centro de Saúde instruiu os médicos de família que não podem fazer esse tipo de prescrição.

Como não me parece que seja esse senhor a pagar do seu bolso estes exames, e como não será, também, o centro de saúde a pagá-lo, só poderá significar que o próprio serviço nacional de saúde instruiu os seus centros de saúde para não prescrever estes exames (ou então, o dito senhor estará a agir de sua livre vontade, e neste caso esta decisão deverá ser confrontada com os respectivos superiores).

Resultado final: o doente acha que o Serviço Nacional de Saúde não é assim tão mau... até vai subsidiando alguns exames. Mas vai ao Centro de Saúde, e verifica que o seu director é um homem mau, e não permite que se prescrevam estes exames. Uma farsa! Para ser assim, é preferível que o próprio serviço nacional de saúde venha publicamente dizer que não subsidiará mais estes exames.

Mas não, é sempre bom enganar os pobres contribuintes...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A lutar, do sofá!

Vi este título no Público de hoje, e achei que devia comentar. Não porque o título esteja errado, ou qualquer coisa desse género, mas porque é típico dos chefes "lutarem" de sítios desconhecidos, em segurança, a gozar de uma vida rica e descansada, enquanto que os seus pobres homens perdem a vida, magoam-se, passam fome e dificuldades.

Será que a vida é sempre assim? Já tínhamos o Osama Bin Laden nas mesmas circunstâncias. Por outro lado, será que podemos fazer um paralelismo com dirigentes dos países civilizados (por exemplo, o Obama) e as tropas deslocadas no fim do mundo?

Possivelmente a solução para este mundo é lutarmos todos como os nossos líderes, sem nada fazer. Então, talvez haja paz...

domingo, 21 de agosto de 2011

São todos uns ases... do Português...



O primeiro de um "aviso" local, talvez mais desculpável (embora pouco). O segundo da publicidade da Chip 7, distribuída este domingo por todo o Portugal (e com o mesmo erro em várias páginas).

Mas olhem ao que eu digo... mais quatro ou cinco anos e um novo acordo ortográfico irá dar-lhes razão.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Porto ou Benfica? Desde pequenino se torce o pepino...

 Ora, encontrei à venda uns livros de iniciação futebolística.

Não os abri, nem me interessa o seu conteúdo.

Mas é curioso olhar para as capas.

Enquanto que no do Benfica se alegram com uma águia...

Os do Porto alegram-se com uma taça.

Acho muito bem que não se levantem falsas esperanças aos pobres miúdos...

Lego 8043 - Escavadora

Ando há algum tempo para escrever umas linhas sobre este conjunto Lego que comprei antes de férias. Não sei se sabem, mas sou doidinho por Lego e tenho de me controlar para não gastar dinheiro. Mas já não comprava um conjunto há dois anos, o que me levou a ser mais mãos largas. Além do mais, estava em promoção na Amazon.

Este conjunto Technic tem de interessante o facto de ser motorizado e telecomandado (infravermelhos). Além disso tem umas novas peças que simulam bombas pneumáticas, mas que na verdade são mecânicas: um eixo é encaixado por baixo, e ao rodar um parafuso faz a bomba expandir-se ou encolher-se. Ahs, e é o meu primeiro conjunto com lagartas. Estes foram todos os factores que me levaram a escolher este conjunto e não outro.

O que posso dizer sobre a montagem que não esteja bem explícito nas imagens que fui guardando da sua construção, é que o corpo do bicho é bastante sólido. Infelizmente o encaixe dos dois receptores infra-vermelhos é algo sensível. Existem muitos detalhes na construção a que se deve ter atenção. Eu fui montando-o em dias diferentes, 5 a 10 minutos por dia, o que fez com que cometesse dois pequenos erros, que levaram a duas funcionalidades não funcionassem correctamente. Já as corrigi, mas convido-vos a analisar as imagens e tentar descobrir os erros.

É interessante como com quatro controlos (dois controlo remotos, dois controlos por controlo remoto) é possível comandar seis movimentos diferentes (que são activados por quatro motores). A ideia é simples e bem executada, um dos controlos (na imagem nota-se que tem uma peça vermelha) serve para comutar entre o controlo do braço e o controlo das lagartas e rotação. Ou seja, os restantes três controlos são usados para controlar a posição do braço, ou são usados para conduzir e rodar a cabine.

As minhas principais queixas são: (1) as lagartas são lentas, ruidosas e pouco flexíveis, (2) a caixa das pilhas embora já razoavelmente fácil de remover, tem alguns detalhes chatos, e (3) porque raio numa empresa de cliques, e encaixes, os comandos precisam de uma chave philips para tirar as pilhas?

sábado, 13 de agosto de 2011

Galão em TetraPack

Para aqueles que julgam que só escrevo a dizer mal das coisas, estão enganados. Desta vez, dar os parabéns à UCAL (parmalat?) pelo seu novo produto, Ucal São Lourenço, ou Ucal Galão. Disponível em embalagens de 1 litro ou de 25 cl (acho).

Tal como as célebres garrafinhas de Ucal chocolate (o melhor leite achocolatado do meu ponto de vista), este Ucal Galão é divinal.

O único problema (ou o principal problema) é o facto de ter demasiadas calorias para eu poder beber amiúde.

Parabéns!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Água Luso... no Luso

Nestas férias estavam planeados 10 dias no INATEL do Luso. Infelizmente e por motivos familiares, tive de as cancelar a meio da estadia. Em todo o caso, deu para perceber porque é que este país, à beira mar planado, não tem como sair do buraco. Não vale a pena a Troika... parece estar entranhado no nosso Ser.

Pois então explico a razão. No Luso, é suposto que se venda água Luso, certo? Até podia não ser o caso, mas a água servida ao almoço era Luso. Até aí tudo bem.

Mas fui ao bar do dito INATEL e pedi uma garrafa de 50cl de água fresca. Tinha visto no preçário que seriam 90 cêntimos. Por si só, já se vê que é um roubo. Mas nem é isso que venho discutir. A emprega perguntou-me se queria uma garrafa de água Luso ou Vitális. Perante esta pergunta, e estando eu no Luso, nem reflecti a razão da pergunta, e disse que queria do Luso.

Já tinha os 90 cêntimos em cima do balcão, mas a empregada disse: é um euro. Enquanto preparava a moeda de 1 euro para pagar, fui dizendo que no preçário dizia 90 cêntimos. A resposta foi inesperada: os 90 cêntimos são da água Vitális. A Luso é mais cara.

É com este tipo de publicidade que a Água Luso perde. E mais crítico ainda é quando esta façanha acontece exactamente ali, onde a água Luso brota da nascente...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Noite sobre as águas

A minha última leitura foi o meu primeiro livro deste autor (Ken Follett).  Não o comprei (requisitei numa biblioteca), e não o compraria, já que não tinha qualquer informação sobre o autor. A única coisa que me podia tentar é um extracto de um comentário sobre o livro publicado algures, e que diz que a obra é comparável ao Crime no Expresso Oriente, de Agatha Christie. Ora, eu ainda não li o Crime no Expresso Oriente (embora já o tenha comprado), mas pelo que conheço da obra de Agatha Christie, este Noite sobre as Águas deverá estar a milhas de distâncias. Nota importante, não acreditar nestes comentários que comparam obras. O mais certo é não corresponderem à verdade.

Ora, a única semelhança que encontro, é que o Noite sobre as Águas descreve uma viagem, de Inglaterra para os Estados Unidos, no tempo em que essa viagem demorava mais de 24 horas; e imagino que o Crime no Expresso Oriente, descreva uma história que decorre durante a viagem do dito comboio.

O livro não deixa de ser interessante. São apresentados todos (ou, digamos, os principais) passageiros deste voo, não com um ou dois parágrafos, mas com um pouco da sua vida antes desta viagem, e a razão que despoleta a viagem. Não que essa razão seja relevante, na maior parte dos casos, para a história descrita, mas faz com que o leitor sinta que conhece melhor os intervenientes na história.

Grande parte do livro é relativamente calmo. Vai descrevendo a viagem e pouco mais. São poucos os detalhes relativos à história principal (do tipo policial). Só aparecem a mais de três quartos do livro. Depois, o autor cisma em descrever encontros sexuais. Não que tal me choque, me desagrade, ou me agrade. É-me irrelevante. Mas num livro de 500 páginas são descritas quatro ou cinco cenas eróticas/sexuais, que nada são relevantes para a história. Mas é provável que este tipo de prosa seja o que actualmente vende.

Em relação à escrita (e/ou tradução), é correcta, e não me surgiu nenhum erro durante toda a leitura, o que é estranho... como devem imaginar... dados os meus comentários prévios a outros livros. Leitura fácil de seguir, diálogos bem explicados (só numa situação tive de reler para perceber ao certo tem falava). No entanto, a história não foi capaz de me cativar e prender ao livro.

Não é de todo um livro excepcional, mas também não é um livro mau. Numa escala de 1 a 10 (tipo IMDB) daria uma classificação de 7.

domingo, 3 de julho de 2011

Nojice de jornalismo cor-de-rosa

A revista visão, que já devia ter juízo e deixar-se de jornalismo cor-de-rosa, tem na edição desta semana uma capa dedicada à morte já tão badalada (e peço desculpa por voltar a falar no caso) do cantor Angélico.

Se já era mau falarem tanto de uma morte, como outra qualquer, sem prestarem o mínimo de respeito pelas pessoas que morreram com ele (sim, não sabem cantar mas são gente, que possivelmente até contribuíram mais para o país... quem sabe... afinal nem sei de quem estou a falar) ou outros tantos que já morreram neste planeta, pior é agora a reportagem da Visão intitulada A maldição da fama tentar defender que a morte foi causada por ele ser.. famoso.

Primeiro, a morte não foi por ele ser famoso, mas por ser desmiolado (para não usar um termo mais forte que possa ferir susceptibilidades). Se ia em excesso de velocidade, com um carro que não era dele, sem cinto de segurança... tudo porque... é famoso?... já ouvi desculpas melhores!

Segundo, porque se foi maldição da fama, porque morreu quem ia com ele?

Como fiquei logo enojado com esta reportagem, não me dediquei a analisar os outros famosos que a Visão refere. Vi, por exemplo, a princesa Diana. Essa posso concordar que foi por ser famosa (e por ter fotógrafos atrás dela, segundo consta) que o acidente sucedeu.

Mas que eu saiba, ninguém ia atrás do BMW. Nem sequer a polícia,... infelizmente!

sábado, 18 de junho de 2011

Cacoo... fail!



O Cacoo é uma ferramenta gira. É pena ser flash, mas aguenta-se. O que não se aguenta é que tenham a lata de me colocar um avatar não escolhido por mim. Eu sei que tenho as orelhas grandes, mas não é preciso exagerar... e depois, uma colega minha... com barba? Que raio de absurdo...

domingo, 12 de junho de 2011

The War of the Worlds - H. G. Wells

Demorou algum tempo. Se procurarem a minha última crítica literária neste blogue terão uma ideia de quanto tempo demorei a ler este livro. E é pequeno. E é em inglês. Mas essa não é a razão principal. Tudo depende do tipo de inglês. Além disso, tive várias confusões neste intervalo que atrasaram o processo.

Mas chega de desculpas, e avante com os comentários.

A minha principal dificuldade ao ler este livro foi contextualizar a história numa época. O livro diz claramente, fim do século XIX. Mas assim de cabeça, é-me difícil ter uma ideia. Que tipo de veículos se usavam (apenas puxados por cavalos?), que tipo de edifícios, que tipo de comboios...

Depois, o livro tem alguns capítulos um pouco fora do contexto. Por exemplo, o narrador conta a saída do irmão de Londres. Embora concorde que possa servir para o leitor ter uma ideia da demanda de pessoas a abandonar a cidade, é contada com muito pormenor. E no final de toda a história, ficamos sem saber se este mesmo irmão se safou (deve ter sobrevivido, já que contou a história) ou o que aconteceu com as duas senhoras que o acompanhavam.

O que gostei neste livro foram as breves reflexões sobre o que nós fazemos aos animais (ou como somos vistos pelos animais), e o paralelismo com o que uma raça superior nos poderia fazer a nós. Embora para alguns leitores esta reflexão possa fazer com que passem a vegetarianos, por aqui não foi o caso...

Também achei piada à descrição da anatomia dos marcianos. Um pouco fora do que estamos habituados nos filmes de Hollywood, o que é positivo.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Crie o seu website... ou não...


É curioso que há quem não tenha medo de se iniciar num serviço ou profissão mesmo não estando à vontade na tarefa em causa. Mas a verdade é que se metem ao caminho, e alguns, têm sucesso.

Não sei se é o caso desta empresa. Desejo-lhes o maior sucesso. Mas têm muito que aprender.

Primeiro, devem aprender a língua em que vão gerir os conteúdos. Preço a partir de 100€ é uma frase correcta, agora com acento, já não é!

Em relação ao design moderno e atractivo, também tenho as minhas dúvidas. Em primeiro lugar aquele "Joomla!" está com um fundo branco que fica muito mal na imagem em causa. Procurei no Google por joomla logo transparent e obtive logo um logótipo em png com fundo transparente. Em segundo lugar, a qualidade daquela imagem que usaram como cabeçalho da publicidade, é um jpeg que levou uma compressão demasiado alta para garantir um design atractivo...

domingo, 5 de junho de 2011

Jornal de Notícias adopta.. a língua brasileira?

Tenho algumas dúvidas que os repórteres do Jornal de Notícias saibam ao certo o que é um reporte.

Como imagino que não tenham tempo para verificar no dicionário, eu explico:
  • é uma forma do verbo reportar, que em nada está relacionado com a criação de relatórios;
  • ou é uma operação bancária, sobre títulos,
  • ou é uma situação da bolsa.
Ora, nenhum dos casos se adequa à reportagem em causa. O que os incultos jornalistas queriam dizer, era relatórios mensais, mas porque não uma tradução mais livre do memorando da Troika?

Haja paciência...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Preço baixo, qualidade baixa

Ia comprar uma caneta vermelha para corrigir exames. Pensei em optar por um par de canetas baratas (ou supostamente baratas), preço económico do Jumbo.

Depois de ver esta imagem fiquei a pensar: bem, se nem sequer conseguem garantir a mesma quantidade de tinta, será que conseguem garantir que a tinta escreve? Ou será que é tão líquida, que vai desaparecer num instante?

Bem, optei por não as comprar...

domingo, 22 de maio de 2011

Eu sou um dos que não concorda(m)

Já por aqui escrevi muitas críticas a vários autores, tradutores, repórteres e outros, que cismam em utilizar a forma Eu sou um dos que não sabe... em vez da forma mais correcta, Eu sou um dos que não sabem..., já que, a meu ver, o verbo deve estar de acordo com o sujeito, e neste exemplo, são vários os que não sabem (embora exista um especial, que é o próprio orador).

Ora, um amigo da área das letras, fez-me chegar às mãos umas páginas de um documento, uma gramática (Cunha e Sintra, 1986) que transcrevo:
Quando o relativo que vem antecedido das expressões um dos, uma das (+ substantivo), o verbo de que ele é sujeito vai para a terceira pessoa do plural ou, mais raramente, para a terceira pessoa do singular:

És um dos raros homens que têm o mundo nas mãos. (Augusto Abelaria, NC, 121)

Umas das coisas que mais me impressionam é a terrível carreira em que nos excedemos. (Gilberto Amado, TL, 8.)

Foi um dos poucos do seu tempo que reconheceu a originalidade e importância da literatura brasileira. (João Ribeiro, AC, 326)

Acurvado sobre a mesa enconsa de seu lavor mercantil, era, aí mesmo, um dos primeiros homens doutos que escrevia em português sem mácula. (Camilo Castelo Branco, BE, 213)

Observação: O verbo no singular destaca o sujeito do grupo em relação ao qual vem mencionado, ao contrário do que ocorre se construirmos a oração com o verbo no plural.
Como devem imaginar, não concordo com estes autores. Primeiro, porque não dão uma razão cabal à utilização do singular (enquanto que a utilização do plural faz sentido gramaticalmente), mas uma razão psicológica, de que se está a enfatizar o sujeito. Segundo, porque limita-se a transcrever exemplos de uso, que não significam nada.

Por maior consideração que tenha pelo Camilo Castelo Branco, não fosse ele cá do burgo, e possa concordar que tem uma grande obra, um estilo interessante, e imaginação fértil, não o considero o suprassumo da língua. O facto de ele usar aquela construção tanto pode ser propositada (será que lhe perguntaram?) como poderá ser simplesmente por ignorância. Mesmo que tenha sido propositada, isso não lhe dá qualquer crédito. Ou então, olhem para a obra do José Saramago, e comecem a transcrever frases da sua obra para as gramáticas, para defender que não há qualquer necessidade no uso da pontuação.

Também já ouvi dizer que é assim que a língua evolui. Mas, reparem, se queremos que a língua evolua, para que mandamos os nossos filhos para a escola, e porque têm eles disciplinas de português, e porque marcam os professores erros ortográficos? Neste momento pode ser um erro, mas quem sabe daqui a uns anos não é a nova forma de escrever?

Do mesmo modo, porque é que há iniciativas, como o programa Cuidado com a Língua que passa na RTP1, que mostram erros cometidos por políticos, comentadores e repórteres? Será que realmente são um erro? Ou será que estão a dar ênfase a determinado aspecto da sua ideia?

É por estas e outras mentalidades que a nossa língua não evolui, mas cai na desgraça, como é o exemplo do novo acordo ortográfico. Em vez de se aplicar bom senso e alguma normalização matemática à língua, abrem-se ainda novas excepções, e complica-se ainda mais a vida a quem tem de aprender e fazer uso da língua.

É que no final, fico sem saber: a língua deve evoluir por si, pelo povo que a usa, ou deve ser especificada em diário da república, obrigando a população a adaptar-se ao que um conjunto de políticos hipócritas acham?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Uma não tão pequena introdução ao LaTeX2e

Depois de quase 4 anos sem actualizações na tradução oficial do The not so short introduction to LaTeX2e, finalmente tive algum tempo. E eis que a tradução da versão 5.01 está disponível. Podem ir buscar o PDF actualizado ao sítio do costume. Brevemente estará disponível no CTAN.

Actualização: tal como o autor da versão original, coloquei a versão portuguesa disponível no lulu.com, para quem quiser comprar uma versão impressa e encadernada de qualidade. Se pretenderem comprá-lo, visitem "a minha loja". Também aceito propostas de capa para as próximas edições (não tenho grande jeito para essas coisas).

Cepo a dobrar...

Ora, não bastava estacionar no lugar reservado para deficientes, tinha de estacionar nos DOIS lugares para deficientes. Há quem não tenha o mínimo de sentido de responsabilidade.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Publicidade Enganosa

A BMW está a tentar que alguém lhes ponha um processo em tribunal por cancro de pele. Não é muito difícil. Desde quando é que a exposição ao sol faz bem? Sim, ou pequenas quantidades, e não, não a conduzir horas ao sol.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mais um cepo, e um cepo de imitação...

O cepo dono do Bê Eme chegou primeiro, e como tem um carro de milhares de Euros, tem de estacionar bem no centro, não vá estragar as portas. O cepo joaninha vermelha, chegou depois, e quis imitar. Olha que bem estacionados que estamos!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

RTP e o acordo ortográfico

Eu sei que não se lê muito bem, pelo que transcrevo: "Trinta e sete anos depois do 25 de Abril aldeia têm água canalizada". Esta notícia demorou uns minutos, durante esses minutos esta legenda foi substituída por outra, e voltou a aparecer, mas a RTP não foi capaz de corrigir a frase. Será que sou eu que ainda não estou adaptado ao novo acordo ortográfico?

terça-feira, 19 de abril de 2011

CP não cumpre Constituição Portuguesa

É verdade, a CP, Comboios de Portugal, não cumpre a Constituição da República Portuguesa, mais concretamente, o ponto 2 do artigo décimo terceiro, onde se lê:
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
Ora, então, o que se passa? Se o cidadão em questão for detentor de um pénis, poderá usar livremente e gratuitamente os urinóis das casas de banho da estação de Campanhã. Se, por sua vez, for detentor de uma vagina, e por isso necessitar de visitar um cubículo para poder urinar, terá de pagar a módica quantia de cinquenta cêntimos.

Embora já me repugne que uma empresa tenha casas de banho pagas, o facto de nos comboios suburbanos não haver uma casa de banho (e note-se que uma viagem Braga -- Porto ou Guimarães -- Porto ultrapassa a hora e meia de viagem) faz com que este facto seja ainda mais ridículo.

Mas pior ainda, é a discriminação sexual que esta medida levanta. Já para não falar na discriminação pela situação económica (para muito boa gente menos cinquenta cêntimos já se torna um grande problema).

segunda-feira, 11 de abril de 2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

As mentiras do Pingo Doce

Ora, fui ao Pingo Doce... e paguei com quê? Dinheiro? Não! Cheque? Também não! Com cartão! No entanto...
Depois de pagar, tal como a lei prevê, deram-me um comprovativo de compra. Não, não foi de um livro de recibos, dos típicos do século passado, mas sim um talão. E no entanto...
Ora, se os zero por cento de talões e de cartões demonstram que não são tão redondos como se supunha, pergunto-me se o zero dos aumentos será assim tão verídico...

terça-feira, 22 de março de 2011

Homenagem a Artur Agostinho

Não podia deixar passar esta data sem uma homenagem sentida ao Artur Agostinho, que hoje se despediu de nós. Fica aqui expressa toda a minha admiração.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Magoas a língua portuguesa

Mais publicidade a transpirar erros ortográficos. Neste caso alguém já tentou corrigir, adicionando acentos à palavra "magoas", e a corrigir a direcção do acento grave. Mas esqueceram-se de corrigir os erros sintácticos. Ora, eu não falto festas, eu falto a festas. Logo, o texto da segunda linha devia ser A festa A que tu não podes faltar.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Um verbo dava algum jeito...

Depois do Saramago inovar, escrevendo romances com deficiência no uso da pontuação, a SIC tenta seguir-lhe as pisadas escrevendo sem verbos. Se alguém me conseguir explicar o significado da frase com fundo branco, eu agradeço.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Problemas de Concordâncias

A revista de domingo do Jornal de Notícias continua a ter problemas de concordância. Não me chocaria no meio de um texto, que só algumas pessoas lêem. Quando é um título de uma notícia, já não é bem a mesma coisa, e as desculpas perdem-se. Ou então estavam todos tão embrenhados a fazer experiências sobre o dito acto sexual.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Pêndulo de Foucault

Devo começar por dizer que este é o meu terceiro livro do Umberto Eco que leio. Comecei pelo Nome da Rosa, e seguiu-se-lhe o Baudolino. Gostei bastante de ambos os livros. Embora de tipos muito diferentes, ambos com muita qualidade. Este, o Pêndulo de Foucault saiu-me completamente ao lado.

Em primeiro lugar, a tradução está uma miséria. Não conheço o livro original (que imagino tenha sido escrito em Italiano) e portanto não sei até que ponto o tradutor da DIFEL seguiu um processo de tradução linear (são ambas línguas latinas) ou não. Mas o certo, é que a tradução está muito má.

Começa por não se traduzir um conjunto de termos informáticos, como file, filename, word processor que não têm qualquer explicação para não terem sido traduzidos pelas equivalentes traduções portuguesas, ficheiro, nome do ficheiro e processador de texto. Se estiveram atentos na leitura deste parágrafo, devem estar a dizer que se o Humberto Eco usou as palavras em inglês, então a tradução também o deve fazer. Embora compreenda essa forma de pensar, não concordo totalmente. Não sei se na data em que o livro foi escrito já existiriam traduções sensatas para Italiano destes termos.

Depois, nas partes mais filosóficas, nota-se a falta de leitura de prova sobre o texto, em que lhe faltam vírgulas e existem faltas de concordância de plurais. Numa workshop que realizei aqui há uns meses na Universidade do Minho, uma responsável por uma empresa de tradução colocava uma dúvida interessante: qual será mais fácil, a tradução técnica ou a tradução literária?

Em relação a este assunto, o típico é dizer-se que a tradução literária é mais complicada, porque um tradutor literário não pode fazer uma tradução literal (curioso o facto de literário e literal serem palavras parecidas), tem de ser verdadeiramente um segundo escritor. Esta tradutora, defende que a tradução de documentos técnicos é mais complicada, porque o tradutor tem de compreender sobre o que está a falar, conhecer a terminologia em causa.

Ora, no caso concreto deste livro, o tradutor mostra ineficácia em ambos os aspectos. Por um lado porque o livro é difícil de ler. É típica a necessidade de reler mais do que uma vez um parágrafo para se conseguir compreender minimamente o assunto em causa. Depois, o tradutor mostra incapacidade de compreender uma área tecnológica. Ao aceder a um computador, referem-se à necessidade de introduzir uma palavra de ordem. Concordo que não há uma tradução com que todos concordem em relação a password, mas a que foi usada não é, de todo, uma das traduções possíveis. Não duvido que em Italiano se use qualquer coisa parecida com palavra de ordem, mas a tradução não pode ser literal. Nem na tradução de literatura, nem na tradução técnica!

Para além da incompetência na tradução, o tradutor também é incompetente na língua portuguesa. Exemplos são as frases a maior parte eram mulheres, que devia ser a maior parte era mulheres, já que o verbo deve estar de acordo com o sujeito, e não com o complemento directo; e a frase era um dos que sabia tudo nos seus tempos, que devia ser era um dos que sabiam tudo nos seus tempos (embora este erro que aponto não seja consensual, mas discutirei num outro post sobre o assunto). Mais exemplos não faltam!

Quando cheguei a meio do livro deparei-me com a palavra radiactivo duas vezes na mesma página (em vez do radioactivo) e, na página seguinte, exilir em vez de elixir. E há mais! Muitos mais! Demasiados! Nesta altura, percebi a quantidade de erros e problemas neste livro (que, imaginem, já vai na décima nona edição mas que, aposto, nunca levou uma única revisão). Nenhum revisor deve ter sido capaz de passar das primeiras 50 páginas para a frente. Perdoem-me a linguagem, mas que grande seca. Tenho pena de ter comprado o livro. Mas já que o fiz, tive de ler até ao fim.

E este facto (ser uma seca), não me parece que seja só culpa do tradutor. Mas o Umberto Eco deixou-me muito decepcionado com este livro. Embora existam pequenas partes ou secções com piada, em que é feita uma caricatura da realidade com humor e sentido crítico, a maior parte do livro consiste em deambulações filosóficas, com termos e nomes religiosos completamente estranhos e que, do meu ponto de vista, nada contribuem para a história. Também não sei se será culpa do Eco ou do tradutor a falta de conhecimento religioso (num livro sobre religiões é um ponto bastante mau!). A santa que perdeu os olhos e que é padroeira da visão chama-se Santa Luzia e não Santa Lúcia. Sem querer defender o Eco, diria que o tradutor não tem grande noção, e achou simplesmente que o termo Luzia era estranho, e limitou-se a traduzir.

Agora que a DIFEL foi comprada (segundo ouvi dizer), espero que os responsáveis por esta edição dêem alguma atenção a este livro. Façam uma revisão da tradução e façam uma revisão da forma de escrita. Ahs, e façam uma revisão ao texto do ponto de vista tipográfico. Ambos os tipos de letra usados são de fraca qualidade, e a impressão deixa muito, mas mesmo muito a desejar.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Já não se fazem destes trabalhos



Dois detalhes e toda a janela da sede do IPCA (Instituto Politécnico do Cávado e Ave) em Barcelos. Como digo no título, já não se vêem trabalhos destes.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Heresia (J. S. Parris)

Ontem terminei a leitura do livro Heresia, de S. J. Parris. É curioso que estive durante todo o livro confiante que o autor deste livro era o mesmo de um outro que terminei em Dezembro: Dissolução. Mas não, o outro foi escrito por C. J. Sansom. Mas existem algumas semelhanças. Ambos relatam histórias que se passam em Inglaterra na altura da criação da religião Anglicana. Ambos têm um fraquinho (grande) por defender a religião Anglicana e atribuir todo o tipo de pecados aos papistas, e padres católicos. Esta tendencia deixa-me algo inconfortável na leitura deste livro. Acho que cada vez mais nos devíamos dedicar a escrever na expectativa da reunião das religiões. É que por mais ateu que o autor seja, é importante destruir os muros entre as religiões. Há outras coisas mais importantes a discutir (sei lá, as situações políticas) do que as crenças pessoais.

Passando ao assunto principal deste post, o que posso dizer sobre o livro que não retire o interesse de um futuro leitor? O texto está bem escrito e o livro é fácil de ler. Mas tem um problema típico: toda a investigação é desmoronada de um momento para o outro. Prefiro quando são apresentados pequenos detalhes, que nos permitem ir investigando por conta própria, tentando descobrir o ou os culpados.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Linda... muito Linda


Esta era uma mensagem na minha pasta de Spam. Não sei o que mais comentar em relação a este post. Sem palavras!

domingo, 30 de janeiro de 2011

A Cartinteirasinha

Tres irmãs viviam do seu trabalho. Estando ellas um dia questionando qual era a mais habilidosa, diz a mais velha:

--Eu tenho habilidade de fazer uma camisa da pelle de casca de ovo para o rei.

--E eu atrevia-me a fazer-lhe umas calças de uma casca de amendoa verde.

Disse a terceira:

--E eu atrevia-me a ter trez filhos do rei sem elle o saber.

Deu-se o caso do rei ter passado por ali na occasião d'esta conversa, e logo pediu licença para entrar. Disse que tinha ouvido isto assim e assim, e que ordenava que ellas lhe mostrassem as suas habilidades.

A mais nova respondeu-lhe que isso dependia de tempo emquanto á sua parte, e o rei partiu dizendo-lhe que não deixasse perder a occasião. As duas irmãs ficaram penalisadas com a aposta da mais nova, mas trataram de desempenhar-se da sua promessa. Soube a mais nova que o rei sahia da côrte e ia estar um anno em Bule; pediu então dinheiro emprestado ás irmãs, comprou rico vestidos, e apresentou-se em Bule sem que o rei a conhecesse. Ao fim de nove mezes teve ella um menino. Ao fim de um anno o rei disse que ia até Toledo, e que quando voltasse casaria com ella, e deu-lhe muitas joias e dinheiro á despedida. Foi o rei para Toledo e quando lá chegou, já lá estava a rapariga com outros trajos, com outra physionomia, e o rei tornou-se a apaixonar por ella, dizendo que ella era superior a tudo quanto tinha visto. Ao fim de nove mezes teve outra criança. Acabado o anno, foi o rei para Sevilha, e lá lhe tornou a apparecer a rapariga tão bem arranjada que lhe pareceu a melhor mulher que havia n'aquella terra. Teve então um terceiro menino. Não quiz o rei ao voltar para a côrte passar por Bule, nem por Toledo, porque promettêra casamento ás outras duas; quando entrou na côrte já lá estava a Carpinteirasinha e as irmãs, pasmadas com as riquezas que trazia. Ella fartou-se de esperar a visita do rei, que não se fiava na aposta; passado tempo o rei estava para casar com uma princeza, e no dia da boda a Carpinteirasinha mandou á côrte os seus trez filhos vestidinhos com todas as joias que o rei lhe tinha dado. Disse-lhes que beijassem a mão do rei e ficassem calados, e só quando o rei lhes perguntasse o que queriam dissessem:
Bale, Tolêdo, Sevilha, andae:
Vimos vêr o casamento d'el-rei meu pae.
Assim fizeram os meninos; o rei comprehendeu logo tudo, lembrou-se da aposta e mandou vir a Carpinteirasinha, com quem casou da melhor vontade.

(Algarve.)

Bem, a verdade é que o estupor do rei não conseguia ver um rabo de saias!

sábado, 29 de janeiro de 2011

Cabellos de Ouro

Um homem e a sua mulher tinham dois filhos, mas não tinham que lhes dar a comer; uma noite estando já deitados ouviu o pequeno estarem dizendo:

--É necessario matar um d'estes filhos, porque não podemos com tanta familia.

O pequeno acordou a irmãsinha, contou-lhe tudo e botaram a fugir de casa. Foram andando noite e dia, e já muito longe o rapazinho cansado deitou-se no chão e adormeceu com a cabeça no regaço da irmã. Passaram por ali trez fadas, e vendo a criança, deram-lhe trez dons:
Que fosse a cara mais linda do mundo;

Que quando se penteasse deitasse ouro dos cabellos;

Que tivesse as mais raras prendas de mãos.
Assim que o pequeno acordou, pozeram-se outra vez a caminho, e foram dar a casa de uma velha muito feia, que os recolheu. Passaram-se annos, e um dia que o rapaz quiz dinheiro, a irmã penteou-se, e elle levou o ouro para vender na cidade. O ourives que lh'o comprou ficou desconfiado, perguntou ao rapaz como é que arranjava aquelle ouro, mas não quiz acreditar tudo quanto elle disse. Foi dar parte ao rei, que o mandou prender até vir a irmã á côrte para se apurar a verdade.

A velha, que tinha ficado com a menina dos cabellos de ouro, resolveu matal-a á fome; já estava havia dois dias sem comer, e quando lhe pediu alguma coisinha a velha disse-lhe que só se ella lhe deixasse tirar um olho. Ella deixou para não morrer. Depois de outros dois dias, estava já a menina a cahir com sêde, e pediu á velha uma pinga d'agua, e ella disse--que só se lhe deixasse tirar o outro olho. Até que ficou ceguinha. Foi então que veiu ordem do rei para que a levassem á côrte; a velha pensou que era melhor deitar a menina ao mar, e levar uma filha que tinha em logar d'ella. O rapaz que estava preso n'uma torre que tinha uma fresta para o mar, viu andarem boiando na agua umas roupinhas, que a maré trouxe para terra; botou-lhe uns lençoes torcidos para que ella subisse.

A velha tinha chegado á côrte com a filha, e se ella não botasse ouro dos cabellos, o rapaz iria a matar. Quando a menina soube isto disse ao irmão--que lhe arranjasse do carcereiro um papel fino para fazer flôres. O carcereiro trouxe o papel, e a menina assim mesmo cega fez um ramo muito lindo cheio de perolas e ouro que lhe cahiam dos cabellos. O irmão pediu ao carcereiro para lhe mandar vender aquelle ramo, não por dinheiro, mas sim por um par de olhos. Apregoou-se o ramo, todos o queriam, mas ninguem se atrevia a dar os olhos da cara por elle; só a velha quando ouviu o pregão é que o comprou pelos olhos da menina, que tinha guardado. O carcereiro trouxe o par de olhos, e a menina tornou a pôl-os outra vez na cara.

Veiu o dia em que a velha teve de apresentar a filha diante do rei, mas não deitava ouro dos cabellos. O rapaz ia já a morrer, quando mandou pedir ao rei que se lhe déssem um fato de mulheriria buscar sua irmã, que a velha tinha querido matar. Deram-lhe o fato, e trouxe então da torre a menina, que se penteou diante do rei, e todos ficaram pasmados d'aquelle dom e da sua grande formosura. A menina contou tudo ao rei, que lhe perguntou o que queria que se fizesse da velha.

--Quero que da pelle se faça um tambor, e dos ossos uma cadeirinha para eu me assentar.

(Algarve.)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Ovo e o Brilhante

Havia uma mulher, que tinha uma filha e uma enteada; estavam sósinhas em casa, uma sempre na cosinha, muito maltratada, e a outra sempre pêrra e soberba de janella. Passou uma velhinha, e pediu se lhe davam alguma cousa. Disse a soberba:

--Vá-se embora, tia, que não ha pão cosido.

A outra disse:

--Não tenho que lhe dar; só se fôr este ovo fresco que pôz agora a gallinha.

E deu o ovo á velhinha. A velhinha quebrou-o, e dentro do ovo estava uma grande pedra preciosa, que era um brilhante; pegou n'elle e deu-o á menina.

--Trazei sempre essa pedra ao pescoço, que emquanto andares com ella haveisde ter todas as felicidades.

A pequena pôz a pedra ao pescoço. A irmã, com inveja, foi tambem buscar um ovo, e deu-o á velhinha. Ela disse que o partisse pela sua mão; assim fez, e rebentou o ovo chôco, que tresandava de mau cheiro e a cobriu de porcaria pela cara e pelas mãos. A velhinha foi-se embora. Aconteceu passar por ali o rei, e viu aquella menina com a pedra ao pescoço, e achou-a tão linda, e ficou logo tão apaixonado, que a mandou buscar e casou com ella. Ficou rainha; e como era boa, a madrasta e a irmã pediram-lhe para que as deixassem viver no palacio; deixou. Um dia o rei foi para uma guerra, onde tinha de se demorar; a rainha ficou no palacio. Ora a madrasta, que já sabia do poder da pedra preciosa, andava mais a filha á mira de vêr se lh'a furtavam; até que um dia que ella estava no banho, e que a irmã lhe tinha ido botar o lençol, furtou-lhe a pedra sem ella dar tino. Immediatamente ficou muito afflicta, e a irmã mais a madrasta fugiram para irem ter com o rei, que estava na campanha, porque tinha a certeza que ella a tomaria por mulher. Pelo caminho pozeram-se a descançar e adormeceram. Passou uma aguia e viu luzir a pedra, e de repente desceu e arrancou-a, e enguliu-a. Quando as mulheres continuaram o seu caminho, chagaram á barraca do rei, sem terem ainda dado pela falta da pedra. Pediram licença para entrar, dizendo que era a mulher do rei que vinha visital-o, porque tinha muitas saudades. O rei conheceu quem eram, e mandou-lhes dar muita pancada e pôl-as fóra; foi então que a rapariga deu pela falta da pedra, e botou a fugir, e a mão atraz d'ella.

Quando o rei chegou ao seu reino, veiu a rainha ao seu encontro; mas como não tinha a pedra o rei não a conheceu, e disse:--É uma tola como as outras. E escorraçaram-na. Ella tornou para o palacio, e lá só a acceitaram para ajudar na cosinha. De uma vez estava-se a arranjar um grande jantar para o casamento do rei, e ella ao amanhar uma aguia, achou-lhe no papo uma grande pedra preciosa. Guardou-a, e pediu ao dono para ir servir á meza. Assim foi; pôz a pedra ao pescoço, e assim que entrou nasala, o rei conheceu-a e lembrou-se d'ella, e perguntou-lhe como é que aquillo tinha sido. Ella contou-lhe tudo, e o rei sentou-a logo á sua direita, e a outra princeza foi-se embora.

(Porto.)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A Madrasta

Uma mulher tinha uma filha muito feia e uma enteada bonita como o sol; com inveja tratava-a muito mal, e quando as duas pequenas iam com uma vaquinha para o monte, á filha dava-lhe um cestinho com ovos cosidos, biscoutos e figos, e á enteada dava-lhe côdeas de brôa bolorentas, e não passava dia algum sem lhe dar muita pancada. Estavam uma vez no monte e passou uma velha que era fada, e chegou-se a ellas e disse:

--Se as meninas me dessem um bocadinho da sua merenda? estou a cair com fome.

A pequena que era bonita e enteada da mulher ruim deu-lhe logo da sua coinha de brôa; a pequena feia, que tinha o cestinho cheio de cousas boas, começou a comer e não lhe quiz dar nada. A fada quiz-lhe dar um castigo, e fez com que ella feia ficasse com a formosura da bonita; e que a bonita ficasse em seu logar, com a cara feia. Mas as duas pequenas não o souberam; feiu a noite e foram para casa. A mulher ruim, que tratava muito mal a enteada que era bonita, veiu-lhes sair ao caminho, porque já era muito tarde, e começou ás pancadas com uma vergasta na propria filha, que estava agora com a cara da bonita cuidando que estava a bater na enteada. Foram para casa, e deu de comer sopinhas de leite e cousas boas á que era feia, pensando que era a sua filha, e a outra mandou-a feitar para a palha de uma loja cheia de têas de aranha, e sem ceia. Duraram as cousas assim muito tempo, até que um dia passou um principe e viu a menina da cara bonita á janella, muito triste e ficou logo a gostar muito d'ella, e disse-lhe que queria vir fallar com ella de noite ao quintal. A mulher ruim ouviu tudo, e disse á que estava agora feia e que vuidava que era a sua filha, que se preparasse e que fosse fallar á noite com o principe, mas que não descobrisse a cara. Ella foi, e a primeira cousa que disse ao principe foi--que estava enganado, que ella era muito feia. O principe dizia-lhe que não, e a pequena descobriu então a cara, mas a fada deu-lhe n'aquelle mesmo instante a sua formosura. O principe ficou mais apaixonado e disse que queria casar com ella; a pequena foi-o dizer á ue pensava que ella era sua filha. Fez-se o arranjo da boda, e chegou o dia em que vieram buscal-a para se ir casar; ella foi com a cara coberta com um véo, e a irmã, que estava agora bonita, ficou fechada na loja ás escuras. Assim que a menina deu a mão ao principe e ficaram casados, a fada deu-lhe a sua formosura, e foi então que a madrasta conheceu que aquella era a sua enteada e não a sua filha. Corre á pressa a casa, vae á loja de palha vêr a pequena que lá fechára, e dá com a sua propria filha, que desde a hora do casamento da irmã tornára a ficar com a cara feia. Ficaram ambas desesperadas e não sei como não arrebentaram de inveja. É bem certo o ditado: «Madrasta nem de pasta.»

(Porto.)

domingo, 23 de janeiro de 2011

O Sapatinho de Setim

Era uma vez um homem viuvo e tinha uma filha; mandava-a á escola de uma mestra que a tratava muito bem e lhe dava sopinhas de mel. Quando a pequenita vinha para casa, pedia ao pae que casasse com a mestra, porque ella era muito sua amiga. O pae respondia:

--Pois queres que case com a tua mestra? mas olha que ella hoje te dá sopinhas de mel, e algum dia t'as dará de fel.

Tanto teimou, que o pae casou com a mestra; ao fim de um anno teve ella uma menina, e tomou desde então grande birra contra a enteada, porque era mais bonita do que a filha. Quando o pae morreu é que os tormentos da madrasta passaram as marcas. A pobre da criança tinha uma vaquinha que era toda a sua estimação; quando ia para o monte, a madrasta dava-lhe uma bilha de agua e um pão, ameaçando-a com pancadas se ella não trouxesse outra vez tudo como tinha levado. A vaquinha com os pausinhos tirava o miolo do pão para a menina comer, e quando bebia agua tornava a encher-lhe a bilha com a sua baba. D'este feitio enganavam a ruindade da madrasta.

Vae um dia adoeceu a ruim mulher, e quiz que se matasse a vaquinha para lhe fazer caldos. A menina chorou, chorou antes de matar a sua querida vaquinha, e depois foi lavar as tripas ao ribeiro; vae senão quando, escapou-lhe uma tripinha da mão, e correu atraz d'ella para a apanhar. Tanto andou que foi dar a uma casa de fadas, que estavam em grande desarranjo, e tinha lá uma cadellinha a ladrar, a ladrar.

A menina arranjou a casa muito bem, pôz a panella ao lume, e deu um pedaço de pão á cadellinha. Quando as fadas vieram, ella escondeu-se de traz da porta, e a cadellinha pôz-se a gritar:
Ão, ão, ão,
Por detraz da porta
Está quem me deu pão.
As fadas deram com a menina, e fadaram-na para que fosse a cara mais linda do mundo, e que quando fallasse deitasse pérolas pela bocca, e tambem lhe deram uma varinha de condão.

A madrasta assim que viu a menina com tantas prendas, perguntou-lhe a causa d'aquillo tudo, para vêr se tambem as arranjava para a filha. A menina contou o succedido, mas trocando tudo, que tinha desarrumado a casa, quebrado a louça, e espancado a cadellinha. A madrasta mandou logo a filha, que fez tudo á risca como a mãe lhe dissera timtim por timtim. Quando as fadas voltaram, perguntaram á cadellinha o que tinha succedido; ella respondeu:
Ão, ão, ão,
Por detraz da porta está
Quem me deu com um bordão.
As fadas deram com a rapariga, e logo a fadaram que fosse a cara mais feia que houvesse no mundo; que quando fallasse gaguejasse muito, e que fosse corcovada. A mão ficou desesperada quando isto viu, e d'ali em diante tratou ainda mais mal a enteada.

Houve por aquelle tempo uma grande festa dos annos do principe; no primeiro dia foi a madrasta ao arraial com a filha, e não quiz levar comsigo a enteada que ficou a fazer o jantar. A menina pediu á varinha de condão que lhe desse um vestido da côr do céo e todo recamado com estrellas de ouro, e foi para a festa; todos estavam pasmados e o principe não tirava os olhos d'ella. Quando acabou a festa, a madrasta veiu já achal-a em casa a fazer o jantar, e não se cançava de gabar o vestido que vira. No segundo dia, foi a menina á festa, com o poder da varinha de condão, e com um vestido de campo vêrde semeado de flôres. No terceiro dia, quando a menina viu que a madrasta já tinha ido para casa, pariu a toda a pressa, e caiu-lhe do pé um sapatinho de setim. O principe assim que viu aqueilo correu a apanhar o sapatinho, e ficou pasmado com a sua pequenez. Mandou deitar um pregão, que a mulher a quem pertencesse o sapatinho de setim seria sua desposada. Correram todas as casa e a ninguem servia o sapatinho. Foi por fim á casa da mulher ruim, que apresentou a filha ao principe, mas o pé era uma patola e não cabia no sapatinho de setim; perguntou-lhe se não tinha mais alguem em casa. Quando a madrasta ia responder que não, abriu-se a porta da cosinha, e appareceu a enteada com o vestido do primeiro dia das festas e com um pésinho descalço, que serviu no sapatinho de setim. O principe levou-a logo comsigo, e á madrasta deu-lhe tal raiva, que se botou da janella abaixo e morreu arrebentada.

(Algarve.)

Esta história parece a cinderela típica tuga. Aqui, o que a torna mais interessante do que a história da Disney, é a madrasta arrebentar-se da janela abaixo :-)