quarta-feira, 2 de maio de 2012

Baudolino - Umberto Eco

Este é outro comentário desfasado no tempo, já lá vão uns anos em que li o Baudolino. Foi o segundo dos únicos três livros de Eco que li até ao momento. É curioso que li livros por ordem decrescente de interesse. Em primeiro lugar O Nome da Rosa, que se não é a obra prima de Eco, estará por lá perto, seguiu-se-lhe o livro sobre o qual vos escrevo hoje, e no final, O Pêndulo de Foulcault, que como já desabafei, é capaz de ser um dos piores livros que li até ao momento. Este decréscimo de qualidade faz-me ter medo de ler O Cemitério de Praga, que já aí está na estante. Mas haja coragem.

Mas voltemos ao Baudolino. A história de uma viagem, do dito Baudolino, contada por ele mesmo. É uma viagem a uma terra mística, com criaturas estranhas, designada pela terra do Prestes João (espero que a memória não me esteja a atraiçoar). Esta viagem é realizada nos primeiros anos do Cristianismo, altura com especial devoção por relíquias (bocados de Santos, ou das suas roupas ou pertences). Há duas passagens relacionadas com estas relíquias que acho tão caricatas que não posso deixar de referir. Perdoem-me qualquer imprecisão, que como vos digo, a leitura foi feita já há alguns anos.

A determinada altura pretende-se expor relíquias referentes aos três Reis Magos. Na verdade, não eram propriamente relíquias, mas os próprios corpos que se querem expor. Dado o estado debilitado e de decomposição em que se encontravam, os três magos foram empalados, de modo a que se segurassem. Se não é estranho pensar na exposição dos ditos corpos, mais estranho é notar que foram espetados... e enrabados.

Outra passagem tem também que ver com relíquias, e com os saques realizados às igrejas. Num desses saques foi roubada a cabeça de João Baptista (a verdadeira, que foi cortada a pedido da filha do Rei). Ora, a igreja não podia deixar que este e outros roubos continuassem a ameaçar a igreja, e portanto decidiram ameaçar todos os ladrões com a excomunhão. Esta ameaça levou a que muitos devolvessem as relíquias roubadas, ou compradas, ou que tinham medo de ser verdadeiras. A ameaça funcionou de tal modo, que foram recuperadas mais de cinco cabeças de João Baptista (fim, todas verdadeiras) bem como um grande conjunto de outras relíquias, e muitas repetidas.

São estas e outras descrições que alegram a leitura de Baudolino, que por vezes se torna ligeiramente maçadora, dadas as incursões históricas e deambulações que Eco aproveita para fazer. De qualquer modo, é um livro que recomendo a todos aqueles que gostaram de ler O Nome da Rosa, não só pela história propriamente dita, mas também, e principalmente, pela forma de Eco descrever, contar, desabafar.

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