Tenho excesso de peso. É inegável. Mas a forma com que a sociedade, e em particular a comunidade médica, lida com isto, deixa-me frustrado. Sim, gosto de comer, tenho uma vida sedentária, e preciso de mudar de hábitos. Isso é óbvio. Mas fazem ideia da dificuldade que é ter essa força de vontade. E não, um "tem de o fazer" não resolve nada.
Para quem tem um metabolismo que queima calorias facilmente, isto deve parecer trivial. Comam menos, mexam-se mais, fim da conversa. Devem achar que passo o dia a comer. Muitas vezes nem é isso. Conheço gente que come barbaridades e continua magra. Não é o meu caso.
O que me irrita é que a obesidade não é levada a sério, nomeadamente como uma doença. Pensa num fumador - tem adesivos de nicotina, medicação, acompanhamento psicológico, várias ferramentas. E quem tem peso extra: uma dieta num papel. É como dizer a um fumador "pronto, agora fumas só três vezes por dia, e daqui a quinze dias falamos".
Já passei por vários nutricionistas e o filme é sempre o mesmo. Nas primeiras semanas há entusiasmo, querem mostrar que são diferentes, fazem uma dieta personalizada, ajustam umas coisas. Depois de dois, três meses, não há novidade. A dieta repete-se. Enquanto isso passamos o dia a ver comida diferente, apetitosa. E não falo das publicidades ou restaurantes. Falo de colegas a almoçar. A motivação vai-se.
Não estou aqui à procura de desculpas. Já me vitimizo sozinho que chegue. Só continua a achar que isto merecia ser tratado de forma séria. Nutrição sim, mas também apoio psicológico, medicação quando faz sentido. Isto não é preguiça nem falta de caráter. É uma condição que precisa de ser tratada como tal.
A quem tem essa força de vontade, invejo-vos. E não é dizendo que o fizeram que me vão dar força. Lamento.

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