Enviei este texto para os jornais locais, Diário do Minho e Correio do Minho. Nenhum dos quais se dignou, sequer, a responder o interesse (ou falta dele) pela publicação do texto. Assim sendo, aproveito para reavivar este blog, partilhando-o convosco.
Uma Hora de Trânsito
Um exemplo entre muitos dos desafios da mobilidade em Braga
Muito se tem falado do BRT, ou Metrobus de Braga, que irá fazer a viagem entre a Estação Ferroviária e o Hospital em pouco menos de vinte minutos. Já se discutiu as obras necessárias e as vias que irão ficar mais congestionadas para que se possa reservar uma faixa para este meio de transporte. O que ainda não se fez foi compreender se estamos a falar de um meio de transporte mais rápido, ou apenas de um autocarro que faz um novo percurso.
Vejamos o exemplo do TUB 87, que faz a viagem entre a Estação Ferroviária e o Hospital. Em tempo de férias demora um pouco menos de 20 minutos. Não serve, é verdade, a Universidade, como o BRT irá servir, mas serve todos aqueles doentes que vêm para Braga de autocarro, e apanham esta linha no Centro Coordenador de Transportes (Central de Camionagem).
Então, qual o problema?
As férias duram cerca de 2 meses, e os restantes 10 meses do ano são um caos. Atualmente, esta viagem não demora os 20 minutos necessários, mas uma hora (sim, três vezes mais). Quem chega a Braga no comboio das 8h00 só consegue estar no hospital às 9h00.
Os problemas são conhecidos: passadeiras onde o fluxo de peões é constante e impede o avanço dos veículos, estacionamento abusivo, e uma total falta de coordenação entre instituições e autoridades. Nas ruas Gabriel Pereira de Castro, Conselheiro Januário, Largo de Infias e Conselheiro Bento Miguel, a história repete-se todos os dias.
Há uns meses, contactei várias instituições (PSP, Polícia Municipal, Câmara Municipal, TUB, Colégio Dom Diogo de Sousa e Colégio Leonardo da Vinci) no sentido de os motivar a trabalharem juntos numa solução. Apenas a Polícia Municipal respondeu. Consegui que, durante uma semana e meia estivessem a ajudar no controlo de algumas passadeiras. Pouco melhorou, mas houve interesse — ainda que passageiro.
Na última semana de outubro, com o Colégio D. Diogo de Sousa encerrado para férias intercalares, notou-se uma melhoria geral. O suficiente para se conseguir uma viagem em menos de meia hora. O problema está, portanto, identificado.
As soluções não precisam de ser complexas. A presença mais regular da Polícia
Municipal nas horas de ponta poderia ajudar a disciplinar o trânsito. Em
passadeiras com maior movimento, a colocação de semáforos com temporização
ajustada poderia criar intervalos de passagem para veículos. Também seria útil
repensar a forma como os “Kiss & Go” estão desenhados: o estacionamento em
espinha, em vez de facilitar, cria um verdadeiro pandemónio na saída. E os
autocarros de apoio ao Dom Diogo de Sousa, não devem ficar estacionados na rua
depois de os alunos terem saído. Se, por outro lado, esperam para alguma visita
de estudo, poderão tentar arranjar um lugar que gere menos confusão.
Mais do que novas infraestruturas, Braga precisa de um esforço conjunto — entre
autoridades, escolas e cidadãos — para que cada um cumpra o seu papel. E talvez
seja tempo de repensar hábitos: nem todas as crianças precisam de ser deixadas
à porta, e nem todos os carros têm de ficar estacionados “só um minutinho” em
segunda fila.
Braga, novembro de 2025

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