Uma obra monumental são as primeiras palavras que me vêm à cabeça para descrever esta obra. A história cobre mais de cinco décadas, cruzando a vida de mais de duas dezenas de pessoas.
É, sem qualquer sobre de dúvidas, uma das principais características da escrita de Ken Follet: a facilidade com que consegue ligar e entre-cruzar histórias. À primeira vista parecem acasos, histórias soltas. Aos poucos, as personagens voltam a encontrar-se: uma, duas e mais vezes, tecendo uma história coerente e bem contada. Com estas características não admira que esta obra tenha sido a base de uma mini-série televisiva de oito episódios.
A história decorre à volta da construção de uma catedral. Dado o título da obra, e os primeiros capítulos, parece-nos que Follet colocou como centro da história essa construção, e que nos conta a história da sua construção. Mas não. Aos poucos vamos chegando à conclusão que é apenas um pretexto, uma forma de permitir juntar as personagens. E também, claro está, para que Follet possa partilhar a sua paixão pelos detalhes arquitectónicos da construção, em particular, de igrejas.
Projectar uma história que demore tanto tempo a desenrolar-se é complicado. Não apenas pela quantidade de detalhes que têm de ser criados para prender o leitor e afastar a monotonia do tempo que vai passando, mas também porque é necessário saber como fazer com que a história evolua. Não é possível colocar o tempo a passar sempre à mesma velocidade, já que por vezes existem detalhes a contar, e noutras alturas nada de novo acontece.
Neste aspecto, da projecção temporal da história, Follet esteve bem, contando pequenas passagens, horas, dias ou meses, com algum detalhe, e saltando uma dezena de anos quando necessário. Esta inconstância na velocidade temporal é apresentada de forma transparente, permitindo ao leitor acompanhar devidamente a história.
Na minha humilde opinião, só no final da história é que Follet mostrou algum cansaço, o que leva a um final radical e rápida, em que são apresentados poucos detalhes, e que nos deixa algumas perguntas por responder. Mas também compreendo que se assim não fosse, arriscava-se a publicar a obra numa dúzia de volumes...
O retrato histórico parece-me bem conseguido, e embora realista, existem algumas cenas de violência sexual que me parecem um pouco desnecessárias ou exageradas. Enquanto que uma delas molda a forma de ser de uma personagem, traçando o seu perfil psíquico, outras há que surgem apenas para belo prazer do escritor, e que nada trazem de acrescentado à história.
Em relação à edição da Editorial Presença, não tenho nada a apontar. A tradução é de boa qualidade, com poucos deslizes. O próprio uso de notas do tradutor não abunda, sendo apenas usadas quando a sua explicação é imprescindível para a compreensão da história. Quando o contexto é suficiente, as notas não são de todo usadas, ficando o leitor encarregue de as interpretar.
Sem dúvida, esta é uma obra que recomendo, seja na sua versão original ou traduzida. Embora apenas tenha assistido a um episódio da dita mini-série, e embora preveja ver todos os episódios, devo desde já defender que é muito diferente a leitura da obra original.
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