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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2011

A Cartinteirasinha

Tres irmãs viviam do seu trabalho. Estando ellas um dia questionando qual era a mais habilidosa, diz a mais velha: --Eu tenho habilidade de fazer uma camisa da pelle de casca de ovo para o rei. --E eu atrevia-me a fazer-lhe umas calças de uma casca de amendoa verde. Disse a terceira: --E eu atrevia-me a ter trez filhos do rei sem elle o saber. Deu-se o caso do rei ter passado por ali na occasião d'esta conversa, e logo pediu licença para entrar. Disse que tinha ouvido isto assim e assim, e que ordenava que ellas lhe mostrassem as suas habilidades. A mais nova respondeu-lhe que isso dependia de tempo emquanto á sua parte, e o rei partiu dizendo-lhe que não deixasse perder a occasião. As duas irmãs ficaram penalisadas com a aposta da mais nova, mas trataram de desempenhar-se da sua promessa. Soube a mais nova que o rei sahia da côrte e ia estar um anno em Bule; pediu então dinheiro emprestado ás irmãs, comprou rico vestidos, e apresentou-se em Bule sem que o rei a conhecesse. Ao fim ...

Cabellos de Ouro

Um homem e a sua mulher tinham dois filhos, mas não tinham que lhes dar a comer; uma noite estando já deitados ouviu o pequeno estarem dizendo: --É necessario matar um d'estes filhos, porque não podemos com tanta familia. O pequeno acordou a irmãsinha, contou-lhe tudo e botaram a fugir de casa. Foram andando noite e dia, e já muito longe o rapazinho cansado deitou-se no chão e adormeceu com a cabeça no regaço da irmã. Passaram por ali trez fadas, e vendo a criança, deram-lhe trez dons: Que fosse a cara mais linda do mundo; Que quando se penteasse deitasse ouro dos cabellos; Que tivesse as mais raras prendas de mãos. Assim que o pequeno acordou, pozeram-se outra vez a caminho, e foram dar a casa de uma velha muito feia, que os recolheu. Passaram-se annos, e um dia que o rapaz quiz dinheiro, a irmã penteou-se, e elle levou o ouro para vender na cidade. O ourives que lh'o comprou ficou desconfiado, perguntou ao rapaz como é que arranjava aquelle ouro, mas não quiz acreditar tudo q...

O Ovo e o Brilhante

Havia uma mulher, que tinha uma filha e uma enteada; estavam sósinhas em casa, uma sempre na cosinha, muito maltratada, e a outra sempre pêrra e soberba de janella. Passou uma velhinha, e pediu se lhe davam alguma cousa. Disse a soberba: --Vá-se embora, tia, que não ha pão cosido. A outra disse: --Não tenho que lhe dar; só se fôr este ovo fresco que pôz agora a gallinha. E deu o ovo á velhinha. A velhinha quebrou-o, e dentro do ovo estava uma grande pedra preciosa, que era um brilhante; pegou n'elle e deu-o á menina. --Trazei sempre essa pedra ao pescoço, que emquanto andares com ella haveisde ter todas as felicidades. A pequena pôz a pedra ao pescoço. A irmã, com inveja, foi tambem buscar um ovo, e deu-o á velhinha. Ela disse que o partisse pela sua mão; assim fez, e rebentou o ovo chôco, que tresandava de mau cheiro e a cobriu de porcaria pela cara e pelas mãos. A velhinha foi-se embora. Aconteceu passar por ali o rei, e viu aquella menina com a pedra ao pescoço, e achou-a tão li...

Problemas nas eleições

Terá sido este o problema com os servidores do cartão do cidadão no último domingo? Hehehehe!

A Madrasta

Uma mulher tinha uma filha muito feia e uma enteada bonita como o sol; com inveja tratava-a muito mal, e quando as duas pequenas iam com uma vaquinha para o monte, á filha dava-lhe um cestinho com ovos cosidos, biscoutos e figos, e á enteada dava-lhe côdeas de brôa bolorentas, e não passava dia algum sem lhe dar muita pancada. Estavam uma vez no monte e passou uma velha que era fada, e chegou-se a ellas e disse: --Se as meninas me dessem um bocadinho da sua merenda? estou a cair com fome. A pequena que era bonita e enteada da mulher ruim deu-lhe logo da sua coinha de brôa; a pequena feia, que tinha o cestinho cheio de cousas boas, começou a comer e não lhe quiz dar nada. A fada quiz-lhe dar um castigo, e fez com que ella feia ficasse com a formosura da bonita; e que a bonita ficasse em seu logar, com a cara feia. Mas as duas pequenas não o souberam; feiu a noite e foram para casa. A mulher ruim, que tratava muito mal a enteada que era bonita, veiu-lhes sair ao caminho, porque já era mu...

O Sapatinho de Setim

Era uma vez um homem viuvo e tinha uma filha; mandava-a á escola de uma mestra que a tratava muito bem e lhe dava sopinhas de mel. Quando a pequenita vinha para casa, pedia ao pae que casasse com a mestra, porque ella era muito sua amiga. O pae respondia: --Pois queres que case com a tua mestra? mas olha que ella hoje te dá sopinhas de mel, e algum dia t'as dará de fel. Tanto teimou, que o pae casou com a mestra; ao fim de um anno teve ella uma menina, e tomou desde então grande birra contra a enteada, porque era mais bonita do que a filha. Quando o pae morreu é que os tormentos da madrasta passaram as marcas. A pobre da criança tinha uma vaquinha que era toda a sua estimação; quando ia para o monte, a madrasta dava-lhe uma bilha de agua e um pão, ameaçando-a com pancadas se ella não trouxesse outra vez tudo como tinha levado. A vaquinha com os pausinhos tirava o miolo do pão para a menina comer, e quando bebia agua tornava a encher-lhe a bilha com a sua baba. D'este feitio eng...

A Muda Mudella

Era uma vez um homem que tinha duas filhas; a mais nova era muito linda e a mais velha muito feia, e por isso embirrava com a irmã, que a não podia vêr. A feia intrigava-a com o pae, que se fiava em quanto lhe dizia; um dia armou uma traição á irmã para a perder. Morava por ali um rapaz muito valdevinos, que tentava todas as raparigas, e a irmã feia disse á mais nova que fosse áquella casa, porque ali existia uma familia envergonhada e em grande miseria, a quem ella podia soccorrer, porque tinha bom coração. Assim que a irmã saiu a soccorrer a tal familia, a irmã mais velha avisou o pae, que lhe foi sahir ao encontro, e ficou suspeitando o que não era. Desesperado com a sua affronta, o pae resolveu mandar matal-a, e deu ordem a um creado que a levasse para a floresta, para acabar com a pobre menina. Mas o creado teve dó d'ella e deixou-a perdida no meio da floresta só com a companhia de uma cadellinha, que ella estimava muito e que nunca a deixava. A menina viveu por algum tempo de...

O cavallinho das sete cores

Um conde tinha ficado captivo na guerra dos mouros. Levaram-no ao rei para que fizesse d'elle o que quizesse. Tinha o rei trez filhas, todas trez muito formosas, que pediram ao pae que o deixasse ficar prisioneiro no castello até que o viessem resgatar. A menina mais velha foi ter com o conde, e disse-lhe que casaria com elle, se lhe ensinasse qualquer cousa que ella não soubesse. O captivo disse: --Pois ensino-te a minha religião, e vens comigo para o meu reino, e casaremos. Ella não quiz. Deu-se o mesmo com a segunda. Veiu por sua vez a menina mais moça; quiz aprender a religião, e combinaram fugir do castello, sem que o rei soubesse de nada. Disse entao ella: --Vae á cavalhariça, e hasde lá encontrar um rico cavallinho de sete côres, que corre como o pensamento. Espera por mim no pateo, á noite, e partiremos ambos. Assim fez. A princeza appareceu com os seus vestidos de moura, com muitas joias, e á primeira palavra que disse logo o cavallinho das sete côres se pôz nas visinhança...

A rosa branca na bocca

Um homem muito abastado veiu a cahir em pobreza pelos seus desvarios; como tinha dado uma boa educação ao filho, este sabia tocar muitos instrumentos e para ganhar a sua vida foi por esse mundo além. Chegou a uma terra e parou diante de um palacio onde se estavam tocando peças de musica muito lindas. Deixou-se ali ficar sem comer nem beber. O dono do palacio vendo aquelle homem parado na rua, perguntou-lhe o que queria. Elle disse que tambem gostava muito de musica; o homem mandou-o entrar para vêr se elle tambem sabia tocar. Assim foi, tocou e desbancou todos os outros musicos. O homem admirado, despediu todos os musicos, e disse ao rapaz que ficasse com elle, para o ouvir tocar sempre. Os outros musicos desesperados só queriam apanhar o rapaz para o matarem; mas o velho assim que soube d'isto protegia o rapaz, acompanhava-o sempre, e queria deixar-lhe tudo como se fosse seu filho. Na côrte correu a fama do tocador, e o rei pediu ao fidalgo para lhe levar o rapaz e deixal-o no paç...

Maria da Silva

Era uma vez um rei, que andava á caça, e perdeu-se no monte, quando se fechou a noite. Foi com o seu pagem pedir agasalho a uma cabaninha de um carvoeiro que vivia na serra. O carvoeiro deu logo a sua cama ao rei, e a mulher, como estava doente, ficou deitada em uma enxerga no aido. De noite ouviu o rei um grande alarido, e chóros, e uma voz que dizia: --Esta, que agora acaba de nascer Ainda ha de ser tua mulher; E por mais que a sorte lhe seja mesquinha Sempre comtigo virá a ser rainha. O rei ficou bastante atrapalhado, e tratou de saber que horas eram. Era meia noite em ponto. Ao outro dia quando fallou com o carvoeiro, perguntou-lhe que barulho tinha sido aquelle. --Foi uma filhinha que me nasceu; havia de ser pela meia noite em ponto, senhor. O rei disse que queria fazer a fortuna d'aquella criança, e que lhe daria muito dinheiro se a deixasse ir com elle. O carvoeiro deixou, e o rei partiu. Pelo caminho disse ao pagem que fosse matar aquella criança, porque era preciso fugir a...

A Sardinhinha

Uma mulher tinha trez filhas; foi com duas para o trabalho, e ficou em casa a mais nova para tratar da comida. Comprou dez reis de sardinhas, e foi assal-as na grêlha. Quando estavam nas brazas, saltou uma das sardinhas para o chão; a rapariga pegou n'ella e tornou a pol-a na grêlha. D'ahi a pouco tornou a dar um salto, e tambem um gemido. A rapariga meio assustada foi levantar a sardinha do chão, e ella disse-lhe: --Nao me mates! Pega em mim e leva-me á borda do mar, e segue pelo caminho que se te deparar. A rapariga foi, e assim que deitou a sardinhinha ao mar, formou-se logo uma estrada muito larga; ella seguiu por esse caminho a dentro e foi dar a um grande palacio, onde estavam muitas mezas póstas. Ella correu todas as salas, viu muitas joias, muitas riquezas, mas o mar tinha-se tornado a fechar, e já não pôde tornar para traz. Deixou-se ficar ali, e dormiu em uma cama muito rica e muito fôfa que achou. Para se entreter despia-se e vestia-se com vestidos riquíssimos que lá...

O Conde Soldadinho

Junto do palacio do rei morava um pobre soldado; no dia e hora em que nasceu um filho ao rei, tambem a mulher do soldado teve um filho. Aconteceu serem muito amigos um do outro, e o rei como era justiceiro e de bom coração deixou que o soldado e a mulher viessem viver para o palacio, para as duas crianças brincarem juntas. Chamavam todos no palacio ao rapaz o Conde-Soldadinho; elle acompanhava o principe a todas as festas e caçadas. Uma vez andava o principe á caça, e achou-se sedendo em sêde. O Conde-Soldadinho foi-lhe arranjar aua; d'ahi a pedaço veiu com um lindo jarro cheio de agua fresca. --Quem é que te deu um jarro tão bonito? --Foi n'uma pobre cabana; e que faria se o principe visse a mãosinha que m'o deu! Foram ambos levar o jarro á cabana, e o principe ficou logo apaixonado por uma rapariga muito linda que ali morava. Tomou amores com ella, ia vel-a em segredo até que prometteu casamento para obter tudo o que queria. Temendo que o rei soubesse d'aquelles amore...

A bixa de sete cabeças

Era uma vez um filho de um rei que era muito amigo do filho de um sapateiro; brincavam sempre juntos, e o principe não tinha vergonha de acompanhar com o filho do sapateiro por toda a parte. O rei não estava contente com aquella confiança, e disse ao sapateiro para mandar o filho para muito longe, dando-lhe muito dinheiro. O rapaz foi-se embora, mas o principe assim que soube d'isto fugiu do palacio e foi por esse mundo além á procura do amigo. Encontrou-o passado algum tempo, abraçaram-se e foram ambos de jornada. Indo mais para diante, encontraram uma formosa menina amarrada a uma arvore. O principe assim que a viu ficou logo muito apaixonado, e perguntou-lhe quem é que a tinha deixado ali. Ella respondeu que não podia dizer nada, mas só pedia que a salvassem. O principe conheceu que ella era de sangue real, e pensou em casar com ella. Pôl-a na garupa do seu cavallo e foram caminhando todos trez. Pernoitaram n'aquella noite em um bosque onde estavam trez cruzes; o principe e ...

O Aprendiz do Mago

Um homem de grandes artes tinha na sua companhia um sobrinho, que lhe guardava a casa quando elle sahia. De uma vez deu-lhe duas chaves, e disse: --Estas chaves são d'aquellas duas portas; não m'as abras por cousa nenhuma do mundo, senão morres. O rapaz assim que se viu só, não se lembrou mais da ameaça e abriu uma das portas. Apenas viu um campo escuro e um lobo que vinha correndo para arremetter com elle. Fechou a porta a toda a pressa, passado de medo. D'ahi a pouco chegou o Mago: --Desgraçado! para que me abriste aquella porta, tendo-te avisado que perderias a vida? O rapaz taes choros fez que o Mago lhe perdoou. De outra vez sahiu o tio, e fez-lhe a mesma recommendação. Não ia muito longe, quando o sobrinho deu volta á chave da outra porta, e apenas viu uma campina com um cavallo branco a pastar. N'isto lembrou-se da ameaça do tio, e já o sentiu subir pela escada, e começou a gritar. --Ai que agora é que estou perdido! O cavallo branco fallou-lhe: --Apanha d'es...

O Mestre das Artes

Havia um pae, que tinha tres filhos, e enquanto dois d'elles andavam a trabalhar nos campos, o mais moço começou a aprender todas as artes e industrias. Disseram os irmãos ao pae: --Nós trabalhamos até aqui para meu pae poder viver, e o nosso irmão mais novo sem fazer nada; agora d'aqui em diante elle deve puxar pelo que aprendeu. O filho mais novo pediu ao pae que lhe desse um açaimo de cão de caça, e disse-lhe: --Vou-me tornar em cão de caça, meu pae hade trazer uma correia e um pau para virem cheios de coelhos, e hade passar pela porta do mercador, que se dá por grande chibante de caça. O pae pôz o açaimo ao rapaz que se tinha tornado em cão, e foi com elle para a caça. Apanhou muitos coelhos, trazia-os dependurados no pau e o cão atraz d'elle. O mercador quando o viu passar pela porta perguntou: --Oh homem! só com esse cão apanhaste tanta caça? --Sim senhor. --Hasde-me vender o cão. --Só se o senhor me der cem mil reis. --Pois sim; está vendido o cão. Contou o dinheiro;...

O Magico

Havia n'uma terra um homem entendido em artes magicas, que nunca queria tomar criado que soubesse lêr para lhe não apanhar o segredo dos seus livros. Foi um moço offerecer-se dizendo que não sabia lêr, e assim ficou-o servindo, e leu todos os livros da livraria do magico, e quando já podia competir com elle, fugiu com todos os livros. Um dia o discipulo achou-se mestre e quiz viver das suas artes; disse a um criado que fosse á feira vender um lindo cavallo que devia de estar na estrebaria, disse-lhe o preço, e ordenou-lhe que assim que o vendesse lhe tirasse logo o freio. Á hora da feira o criado foi á estrebaria e lá achou um lindo cavallo e partiu com elle para o mercado. Estava na feira o Magico que tinha sido roubado, e conheceu logo debaixo da fórma do cavallo o seu antigo discipulo; foi ajustar o preço, pagou a quantia tão depressa, que o criado se esqueceu de tirar o freio ao cavallo. Quando o quiz fazer já não foi possivel, porque o Magico disse que o contracto estava fecha...

Cravo, Rosa e Jasmim

Uma mulher tinha tres filhas; indo a mais velha passeiar a uma ribeira, viu dentro da agua um cravo, debruçou-se para apanhal-o, e ella desappareceu. No dia seguinte succedeu o mesmo a outra irmã, porque viu dentro da ribeira uma rosa. Por fim, a mais nova tambem desappareceu, por querer apanhar um jasmim. A mãe das trez raparigas ficou muito triste, e chorou, chorou, até que tendo um filho, este quando se achou grande, perguntou á mãe porque é que chorava tanto. A mãe contou-lhe como é que ficára sem as suas tres filhas. --Pois dê-me minha mãe a sua benção, que eu vou por esse mundo em procura d'ellas. Foi. No caminho encontrou tres rapazes em uma grande guerreia. Chegou ao pé d'elles... «Olá, que é isso?» Um d'elles respondeu: --Oh, senhor; meu pae tinha umas botas, um chapeu e uma chave, que nos deixou. As botas em a gente as calçando, e lhe diga: Botas, põe-me em qualquer banda; que se apparece onde se quer; a chave abre todas as portas; e o chapeu em se pondo na cabeça...

As Fiandeiras

Era uma mãe que tinha uma filha e só pensava em casal-a bem. Foi a casa de um mercador que vendia linho, e pediu-lhe para que lhe vendesse uma pedra de linho, porque a filha fiava tudo n'um dia. Trouxe o linho para casa e disse á filha: --Tens de me fiar esta pedra de linho hoje mesmo, porque ámanhã vou buscar mais. Quando voltar a casa quero achar o linho todo fiado. A pequena foi sentar-se á porta, a chorar, sem saber como obedecer á mãe. Passou uma velhinha: --A menina o que tem, que está a chorar d'esse modo? --O que hei-de ter! É minha mãe que quer á força que lhe fie n'um dia uma pedra de linho, e eu não sei fiar. --Deixe a menina estar que eu lhe fio tudo se me prometter que no dia do seu casamento me hade chamar tres vezes tia. A menina olhou para dentro de casa, e viu o linho remexido, e todo fiado. No dia seguinte a mãe foi á loja, gabou muito a habilidade da filha, e pediu outra pedra de linho para ella fiar. A pequena foi sentar-se á porta, a chorar, esperando q...

A filha do rei mouro

Um rei mouro tinha duas filhas. A mais nova queria aprender a religião e andava ás escondidas com o camarista, que a ensinava. A mais velha vendo-a uma vez sair do quarto do camarista, disse-lhe: --Deixa estar, mana, que pae hade saber tudo. --Ai menina! disse o camareiro, se o rei sabe que anda a aprender a resar commigo, estamos perdidos. --Não tenhas mêdo; alevanta-te de madrugada, aparelha dois cavallos e vamos para a tua terra. Assim fez; ella encheu tres saccos, um de cinza, outro de sal, e outro de carvão, e foram-se ambos por esse mundo fóra. Quando o rei soube da fugida, mandou a sua tropa para agarrarem o camarista e a filha, e que os matassem onde quer que os encontrassem. A cavallaria correu a toda a brida, e estava já quasi a pilhal-os, quando o camarista, olhando para traz, gritou: --Ai menina, estamos perdidos. --Não tenhas mêdo. E a menina despejou o saco de cinza e fez-se logo um nevoeiro tão cerrado, que a tropa nao pôde dar mais um passo, e voltaram para traz a dize...

As trez fadas

Era uma vez uns casados que não tinham filhos, e viviam por isso muito descontentes. A mulher foi-se confessar ao Padre Santo Antonio, e contou-lhe o seu desgosto. O santo deu-lhe tres maçãs, para que as comesse em jejum. A mulher chegou a casa, pôz as trez maçãs sobre uma commoda, e foi arranjar o almoço. O marido vindo de fóra encontrou as tres maçãs e comeu-as. Ao almoço a mulher contou o succedido na confissão e o marido ficou todo assustado. A mulher foi outra vez fallar com o santo, que lhe disse: --Pois os trabalhos por que tinhas de passar, o teu marido que os passe. Chegado o tempo o homem começou a gritar, chamou-se pessoa entendida, e abriram-no para o alliviar. O homem desesperado mandou deitar a criança no monte. Uma aguia desceu do ár e levou a criança no bico e li a creou com o leite que ia tirar ás vaccas que andavam pastando, e agasalhava-a com a roupa que pilhava pelos estendedouros. Fez-lhe uma casinha de palha, e ali se creou a pobre criança, que se tornou uma menin...

A saia de esquilhas

Um homem rico tinha tres filhas, e costumava ir passar o verão com ellas para o campo; ao voltar para a côrte ficou a filha mais velha, que era muito esperta, encarregada de arranjar a bagagem. Depois de ter tudo arrumado e prompto para partir, foi ter com a caseira da quinta, que andava no arranjo da sua casa. Em cima de uma caixa estava uma roca com estopa, e a menina pegou n'ella para se entreter: --Menina, não pegue n'essa roca; póde metter alguma púa pelas unhas, e olhe que faz grades dôres. A velha continuou a governar a sua casa, quando sentiu um grito; veio vêr o que era. Era a menina que tinha cahido desmaiada, sem sentidos. Deu-lhe a cheirar alecrim, alfazema, mas ella não voltava a si. Apoquentada com aquella desgraça, escondeu a menina, e logo que anoiteceu foi deital-a na tapada real; pôz-lhe uma almofada para recostar a cabeça e cobriu-a com uma manta, fingindo que estava ali a dormir. Passado outro dia foi lá vêr se a menina teria dado accordo de si. Nada. Calou-...

O Surrão

Era uma vez uma pobre viuva, que tinha só uma filha que nunca sahia da sua beira; outras raparigas da visinhança foram-lhe pedir, que na vespera de S. João deixasse ir a sua filha com ella para se banharem no rio. A rapariga foi com o rancho; antes de se metterem no banho, disse-lhe uma amiga: --Tira os teus brincos e põe-os em cima d'uma pedra, porque te podem cair na agua. Assim fez; quando estavam a brincar na agua passou um velho, e vendo os brincos em cima de uma pedra, pegou n'elles e deitou'os para dentro do surrão. A rapariga ficou muito afflicta quando viu aquillo, e correu atraz do velho que já ia longe. O velho disse-lhe que entregava os brincos, com tanto que ella os fosse buscar dentro ao surrão. A rapariga foi procurar os brincos, e o velho fechou o surrão, com ella dentro, botou-o ás costas e foi-se de vez. Quando as outras moças appareceram sem a sua companheira, a pobre viuva lamentou-se sem esperança de tornar a achar a filha. O velho, ao passar a serra, a...

RTP adota acordo ortográfico

A RTP adotou o acordo ortográfico mas ficou algo confusa... a ideia é remover ou aumentar o número de consoantes mudas?

O Velho Querecas

Eram tres irmãs, muito pobres, que viviam do seu trabalho aturado. N'aquella terra havia uma casa em que ninguem queria morar porque lá dentro ouviam-se de noite grandes gritos e terrores; as raparigas, para pouparem o aluguel, foram pedir para as deixarem morar n'aquella casa. A mais nova, como mais animosa, foi morar para o ultimo andar. Uma noite, mal ella se tinha acabado de deitar, ouviu uma voz gritar: -- Eu caio! -- Pois cae! -- respondeu-lhe a rapariga. De um buraco do tecto caiu uma perna. Depois soou de novo o mesmo grito: -- Eu caio! -- Pois cae! -- repetiu a rapariga; e assim foram caindo os braços, o tronco, até que ella achou diante de si um homem já muito velho e calvo. O velho chegou-se proximo da rapariga, e perguntou-lhe: -- Não tens medo de mim? -- Não. -- Fazes muito bem; és a primeira e unica pessoa que resiste ao medo de me vêr. Em paga da tua coragem toma lá esta bolsa, e quando te vires n'alguma afflicção diz sempre: Valha-me aqui o velho Querecas. O...

A cara de Boi

Era um rei, que tinha trez filhos. Um dia disse: -- Pois, fihos, vão correr o mundo, e aquelle que trouxer a mulher mais formosa é que hade ficar com o reino. Partiram todos; os dois mais velhos acharam logo duas raparigas muito formosas, com quem se casaram. Uma era filha de uma padeira e a outra de um ferreiro. O mais novo andou por muitas terras, sem encontrar mulher que lhe agradasse. Indo um dia por um escampado, cheio de fadiga, desceu do cavallo e deitou-se a uma sombra. Deu-lhe então na vista uma casa muito alta sem porta nenhuma, e só lá bem alto é que tinha uma janella. Esteve ali muito tempo, até que viu vir uma velha, que chegou ao muro da casa, bateu na parede e disse: Arcello, arcello, Deita o teu cabello Cá abaixo de repente, Quero subir immediatamente. Foi então que elle viu apparecer á janella uma trança de cabello tão comprida, que ficou espantado com a sua belleza. A velha pegou-se a ella como se fosse uma corda e subiu para dentro de casa. Pouco tempo depois a vellh...