
Uma noite que estava recolhido, sentiu entrarem-lhe na camara e metter-se na cama com elle uma dama; quiz saber quem era, accendeu uma luz, mas ella trazia uma mascara. Enquanto se demorou no paço, todas as noites ia a dama ter com elle.
O rapaz insistiu para que lhe dissesse quem era. Ella respondeu:
--Não te posso dizer quem sou! Ámanhã ao entrar para a missa, hasde-me vêr com uma rosa branca na bocca.
O rapaz foi dizer tudo ao fidalgo que já o tratava como filho; mas o fidalgo lembrando-se do odio dos musicos, quiz acompanhal-o, não fosse alguma traição. Pôz-se elle á porta da egreja, entraram todas as damas, e só quando veiu a rainha é que ao lado d'ella viu a condessa que a acompanhava, e que todos tinham na côrte por muito virtuosa, com a rosa branca na bocca.
Assim que viu o rapaz em companhia do fidalgo botou a rosa ao chão e amachucou-a com os pés. O rapaz chegou-se proximo da condessa para saber o motivo d'aquella zanga. Ella disse-lhe que a tinha atraiçoado, dizendo tudo ao fidalgo. Perguntou-lhe elle o que era preciso que fizesse para tornar a alcançar o seu amor. Disse a condessa que só matando o fidalgo que lhe serviria de pae. Elle na sua cegueira assim fez. O rei quando soube d'este crime, achou-o tão atroz que deu ordem logo para que o enforcassem. Então a condessa foi contar tudo ao rei, e confessou-se culpada, dizendo que o rapaz estava innocente, e que o que fizera era pela paixão do amor. Então o rei perdoôu-lhe:
--Já que a condessa fez a sua desgraça, case agora com elle para o fazer feliz.
(Algarve.)
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